Na noite do dia 6 de Junho, por volta das 23h, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade de Jales, interior de São Paulo, tornou-se palco de uma cena revoltante, que simboliza o colapso da saúde pública e a violência crescente contra profissionais que estão na linha de frente do cuidado.
Uma acompanhante, insatisfeita com a demora na liberação do CROSS (Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde) — processo que não depende da UPA, mas sim da regulação estadual e da disponibilidade de leitos —, se dirigiu ao posto de enfermagem em surto, gritando e ofendendo médicos e enfermeiros, completamente fora de controle.
O que começou como uma explosão verbal rapidamente evoluiu para a agressão física.
A mulher chutou a bandeja de uma técnica de enfermagem que se preparava para medicar um paciente, colocando em risco a segurança do atendimento e dos demais. Em seguida, num ato brutal, enforcou a enfermeira de plantão, jogando-a contra o próprio paciente que acompanhava, arranhando seu pescoço e deixando marcas visíveis da agressão.
“Não consigo expressar o tamanho da minha indignação. Até quando nós, profissionais da saúde, vamos precisar suportar esse tipo de abuso? A enfermagem está no limite”, desabafa a profissional agredida.
Esse não é um fato isolado. É o retrato de um sistema em colapso, que adoece os profissionais ao mesmo tempo em que falha com os pacientes. É o retrato do abandono.
Profissionais da saúde — especialmente da enfermagem — estão cansados, emocionalmente esgotados e doentes por dentro. São vítimas do mesmo descaso que atinge a população, mas com o agravante de estarem de mãos atadas, presos em um ciclo de trabalho exaustivo, invisibilidade institucional e, agora, violência física e verbal.
É preciso deixar claro:
A enfermagem não é culpada pela falta de vagas.
A enfermagem não tem controle sobre o sistema de regulação.
A enfermagem não é saco de pancadas.
Ainda assim, são os primeiros a ouvir os gritos, a lidar com a frustração da população, a aguentar a sobrecarga e as más condições de trabalho. E agora, com cada vez mais frequência, a serem agredidos dentro do próprio local de trabalho.